quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Bella



Morre Bella Josef. A notícia chega através de uma aluna minha na UFRRJ, cujo seminário sobre Borges motivou o seu grupo a marcar uma entrevista com a autora de História da Literatura Hispano-americana.

A morte de Bella deixa mais pobre o grupo de alunas que a entrevistariam neste novembro. A morte de Bella deixa mais pobre o meu curso cuja bibliografia inscreve dois dos seus títulos: Diálogos Oblíquos e Romance hispano-americano. Sem Bella, fica mais pobre toda uma geração que ela formou em torno da língua espanhola e da literatura latino-americana – de Borges e Sábato a Cesar Aira. Bella leu e dialogou com seus labirintos, fantasmas, abandonos...

Quando cursei doutorado na UFRJ, fui aluno de Bella Josef num curso sobre Ficção Hispano-americana. Com ela li Benjamin e Cortázar. Escrevi sobre utopia e realidade no espaço urbano, tendo o livro Rayuela como objeto de leitura. Aprendi que, neste romance de Cortázar, os deslocamentos do sujeito, seus movimentos utópicos pressupõem a crença numa espécie de ideal socialmente desejável que possui com o imaginário uma forte relação. Aprendi também que este ideal vem atrelado ao anseio de rupturas; que ele é contrário aos petrificados modelos existenciais fabricados principalmente pela norma burguesa.

A leitura de Rayuela sugere a produção de outras subjetividades através da construção de diferentes imagens e linguagens. Bella lia de forma arguta essas linguagens. Ela sabia que o romancista preenche “os silêncios da história”.