quinta-feira, 25 de março de 2010

Do lírico que não se distancia




Tarde percebeu: nem todo lirismo tem olhar dispersivo. Lembrou Macau, livro do Paulo Henriques Brito: são as palavras, e não os ombros, que suportam o mundo. Prestou atenção nas palavras ao lado. Palavras dos ombros. Atenção para o que roça. Celebração do que está próximo. Tia Lica achava o longe geralmente passível de adiamentos...

Impelido pela movência do seu tempo, embarcou em fluxos musicais, repetitivos. Fluxos prolongados que nem uma nota longa e lânguida de antiga canção. Sintaxe antidiscursiva e musical que circunda de forma repetitiva o objeto. Desvios coordenados na rememoração.

Ele não sabe a que tipo de impulso – unificador, múltiplo? – as coisas amoldam-se. Coisas moldam. Inscreve, na previsão do romance, uma “lógica perfeita de nervuras” –. como diz o poeta-engenheiro Joaquim Cardoso. Lírico plugado no seu tempo, ele traça em sua poética um diálogo afirmativo entre mitologia e sonho. As formas da mitologia dialogam com os sonhos da razão e seus monstros.

Centrado numa razão fictícia, esse diálogo registra a memória dos homens, mangues e cajus nordestinos।