quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Terceira Carta do Fim




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Bosque dos Eucaliptos, Novembro de 1998


My dear

Parece que o jantar não fez bem. Desde a Madrugada de ontem, um embrulho no estômago e outro por sobre a mesa me deixam sem tesão. Lembrei do tempo no qual vibrava, mil verbos, e ficava puto como, de quando em vez, você conseguia me deixar. Como em Dante e Ana C, chove a cântaros, dentro da alta fantasia (leia, por favor, com a dicção nobre que o verso pede).

Sigo e rego com Pessoa: tudo que vem é grato. Os textos e a foto acenderam a madrugada. É isso: depois da foto do espelho, achava que ia demorar. Salvei a almofada. Fiz do rasgão um ícone mítico no meu pc. Esse rasgão, o buraco escuro não saíam da retina. Ficaram noites, semanas, meses de rasgão na retina. Eu pensava pô, pelo menos isso, vai. Irriga um pouco a secura do meu pc nesta vida severina de nós 2.

Não sou mesquinho nem azedo como você advertiu uma vez. Lembro dos dias eleitos. Caminhadas pelas ruas da cidade, teu braço roçando o meu e as luzes acesas. Vivi nos Fragmentos de um discurso amoroso ao vivo o poder do afeto fertilizando dias nos cenários em ruínas da cidade. Alguns finais de tarde, café no entardecer do Palácio, patrocinam essas miudezas do afeto. Pequeno mapa do desejo expresso na cor de sempre.

Sempre na hora do rango, flashes da nossa rotina. Essa necessidade de festejar na sala o afeto que circula na tela na página no pau e irriga o projeto da vez. Esses flashes sugerem uma outra parada que Barthes não anotou porque só conhecia Gilberto Freyre, nunca leu Carlos Drummond: o amor chega tarde. Demora. Às vezes nem vem. Enquanto isso, o jeito é brincar de lobo e comer a vovozinha. Ou seja: ser o verão o apogeu do inverno.

E não chame novamente de drama o que argumentei com fatos. Não aceito. Conheço o dorso do tigre, da montanha, colhi laranja no pé. Sei muito bem o que querem de mim os buritis na tarde. Não respondo mais aos questionários escolares nem traço roteiros para acampamento juvenil. Redações de férias? nem pensar, adoro sarna, manchinhas, espremo espinhas, o escambal. Como com farinha e jeito de quem não se espanta. Nem com o azul azul, nem com a mão no seio da sereia.