sábado, 27 de fevereiro de 2010

Agora um salto

Com a alma azul de sempre,
continuava a ser de todos
os tempos, vãos e climas.
Ironia acesa nas retinas,

vira andorinha dispersa
num farfalhar de gestos
e pensou: agora um salto.
Do pé no chão brotou

um temperamento oposto
às ideias urtigas: glória
é amaciar agruras e arar
brotos de outra verdura

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Romance

Espécie de deus avulso
e contraditório, o acaso
requer alguma graça e frase
sutil por concluir: ora veja...

Duplicado, mel nos alicerces
repostos, ungido fui por este
Deus de pouca quilometragem
que transita em três tempos

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Esaú e Jacó

Como um segredo cansado
de sua mudez, bebeu a luz
da manhã e narinas abriu
ao pasto aberto sob o sol.
Vexado de tanta luz, bradei:

Tabuadas da minha infância
ai, Cartilhas, dai-me o gosto
de cobrir feras e descobrir,
a título de novos ares e elos,
Lili e o Lobo entre Letras.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Destino do Inacabado

Sempre verdíssimas
estas montanhas mineiras.
Folheio-me nelas ao som
de riachinhos que narram
sempre às mesmas margens.

Sem a pressa de quem
cedo nomeia, sem pose
e leitor da bula brutal
da paixão, cedo, ativo,
aos ritmos do meu tempo.

No silêncio do vale
escrevo versos às coisas.
Comigo acostumadas, elas
movem e ditam o destino
do inacabado: a criação

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Retiro Mineiro

1

Alguma Tecnologia

fogão à lenha, filtro de barro
rede armada, lanterna acesa



2

Assovio no Vento Escuro

o som liso traz algo tátil
acende lareira



3


Tu


triste ausência ritmada
ao som da chuva que cai

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Retratos Mineiros





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1

alpendre com rede


porteirinha de madeira
flores num vaso ao sol


2

com um capim na boca


o cavalo fuça a cancela
roçando o pasto cercado


3

o riachinho narra no mesmo tom

uma historinha irrepetível
para outras margens


4

nas galhas da mata verde

a dança da borboleta
ao som da cachoeira


5

a cachoeira ora do alto

numa gradação de quedas
petrificando um altar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Roteiros Mineiros

















Casa de Hóspedes Carijó - Bocaina/MG




1

entre o haicai e o epigrama

esta letra breve balança
ao som de versos brancos


2

óculos, chaves, lanterna acesa

sob o guarda-chuva
um corpo com pilha


3

na solidão do verde vale

a janela da casa abre
diálogo com o pinheiral


4

leio deitado na cama

pela janela, o céu sobre
o dorso da montanha