O círculo e o fogo. Prestem atenção neles dois. Na narrativa de “As Ruínas Circulares”, esses dois signos destacam-se como representativos do enunciado criado por Borges. O círculo e o fogo. Alusões a esses signos são freqüentes, como demonstra o recorte vocabular desse conto lido como texto representativo do gênero fantástico.
Em torno do círculo e sua forma, selecionamos o seguinte recorte: recinto circular, o sol, cântaro, anfiteatro circular, amoedar o vento, disco da lua... Já o signo “fogo” inscreve e acende, dentre outros, as expressões seguintes: cor do fogo, incêndios antigos, deuses incendiários, templo incendiado, o próprio fogo, culto do fogo...
Segundo o Dicionário de Símbolos, o círculo é o signo da Unidade de princípio, e também do céu. Remete, portanto, a coisas distantes. O círculo diz das abstrações e suas sangrias. Ratifica buscas infindas. Já o fogo, remete a libertação. Segundo o mesmo dicionário, algumas raças entram no fogo a fim de libertar-se do condicionamento humano. Com base nesta leitura, inferimos que o fogo pode queimar o clichê do corpo petrificado. Corpo de gesto rígido, autoritário. Engessado pelo capitalismo social que nos consome nas paradas do consumo e da repetição.
Este fogo libertador das ruínas está presente na poética do fogo de Bachelard: “antes de ser filho da madeira, o fogo é filho do homem.” Este mesmo homem – mítico, sonhador, esanguentado – que no conto de Borges sonha e caminha “contra as línguas do fogo”.