quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fé na Paisagem

Apresentação da Exposição Painéis do Rio, de Jussara Santos
Rio de Janeiro (Ipanema e Ilha do Fundão), 2008





O Rio de Janeiro é uma cidade cujas formas – naturais, urbanas, históricas e culturais – abastecem com luminosidade e ritmo o olhar de quem cria. Esse abastecimento luzidio faz com que os pés vejam, os olhos ouçam, as narinas optem. Por isso o corpo fala, dialoga com o entorno.
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Leitora diária da paisagem carioca há mais de duas décadas, Jussara Santos ouve o diálogo que a natureza e a cultura vêem tramando por aqui desde 1565, quando Estácio de Sá fundou o município de São Sebastião do Rio de Janeiro. De olhos e ouvidos atentos aos discursos da paisagem e dos seus habitantes, a artista dialoga com as formas do Rio que, segundo Carlos Drummond, amanhecem como se tivessem feito amor durante a noite. Desse diálogo entre o olhar, a audição e essas formas, brotam os painéis de bairros díspares e complementares como Copacabana, Flamengo, Glória, Largo do Machado, Ipanema, Tijuca.... Eles inscrevem os cenários culturais que nos circundam, nos consomem e abastecem a nossa fé.

Jussara assume que as suas paixões são sociais. Senhas dessas paixões estão nos fios elétricos que atravessam o painel visto a partir da margem. Estão também na miniatura do corpo que compõe o cenário. São também visíveis, as senhas da paixão, na fé que a artista ostenta ao subir às margens, escalar morros, filmar comunidades em busca de ângulos inusitados. A partir dessa estética da periferia, ela capta uma outra visão da cidade que foi capital do Brasil durante 197 anos. Essa noção de visibilidade rasura a beleza previsível e colorida do cartão postal.

Os “Painéis do Rio” não ostentam a nobreza solene e segura que as molduras delimitam na história da arte. Nada limita as margens destes painéis. Seus suportes leves dizem muito da ação da portabilidade e da noção de movência que caracterizam o nosso tempo. Dizem também estar, nestes amplos espaços públicos, a matéria que Jussara usa para aproximar a arte e a cultura dos cenários cotidianos nos quais transitamos.

Através desses painéis – antes desenhados na pele e na mente de quem cria – o leitor de imagens banha os olhos nas formas do Rio. Ao banhar-se nessas formas ouve, cheio de fé, a fala da paisagem.