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Com o texto De Anjo gauche a anjo na contramão: por uma poética do falanjo, a professora e ensaísta Ana Santana defendeu, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a sua dissertação de mestrado, em 1998, tendo a poética de Adélia Prado como objeto de leitura crítica.
Pofessora adjunta da Universidade Potiguar e professora formadora do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy, Ana acaba de lançar o ensaio A Nação Guesa de Sousândrade. O texto é resultado da sua tese de doutorado, defendida na UFRN com orientação de Ilza Matias de Sousa, professora que a orientou também durante o mestrado.
Pofessora adjunta da Universidade Potiguar e professora formadora do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy, Ana acaba de lançar o ensaio A Nação Guesa de Sousândrade. O texto é resultado da sua tese de doutorado, defendida na UFRN com orientação de Ilza Matias de Sousa, professora que a orientou também durante o mestrado.
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Com experiência nas áreas de Educação e Literatura, a professora Ana Santana desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, tematizando principalmente o lugar da literatura latino-americana, a performance literária e o letramento literário. A seguir, ela fala sobre a sua trajetória crítica e acadêmica, ressaltando a importância de Sousândrade como um autor cuja obra constroi-se a partir de múltiplas linguagens, "reunindo contribuições de diferentes culturas e tradições".
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De natureza errante ou a transgressão dos gêneros e territórios
NG: Por que você escolheu escrever A Nação Guesa de Sousândrade?
AS: No mestrado (UFRN), numa disciplina de Wander Melo Miranda (UFMG), eu li um texto de Homi Bhabha que me provocou muito. Fiquei entusiasmada com o conceito de DissemiNação. Naquele momento, eu pesquisava a poesia de Adélia Prado, mas seguia outros caminhos. Depois de concluído o mestrado, passei a ler O Local da Cultura, de Bhabha. Lembro que, enquanto lia, ia fazendo a relação com autores brasileiros e percebendo como aquela leitura teórica convocava Oswald de Andrade. Por causa dele, lembrei de O Guesa, que conhecia de uma leitura superficial da ReVisão de Sousândrade, de Haroldo de Campos. Foi o suficiente para perceber naquela narrativa sousandradina muitas questões que estão na pauta das universidades hoje. A obra é mestiça, híbrida, elaborada por uma performance de serpente emplumada. Por isso é instigante, atual, visionária. Eu não tive como escapar, embora muitas vezes tenha tentado, amedrontada pelo assombro que é o poema épico de Sousândrade. Escrever sobre O Guesa só foi possível graças ao apoio da minha orientadora Ilza Matias de Souza e do acadêmico maranhense Jomar Moraes, responsável pela reedição da obra do poeta.
NG: No Canto X do Guesa, um personagem pergunta: "De qual natureza/ É o Guesa?" Qual resposta você daria para o seu leitor?
AS: O Guesa, como o próprio nome significa, é de natureza errante. O autor tem a marca da orfandade, do estranho, do híbrido, do mestiço que só se desenha pela errância. Sousândrade escreve uma narrativa em viagem que transita entre biografia e ficção, realidade e sonho. Escrita de sua própria invenção das culturas, O Guesa pode ser assim recuperado em sua dimensão de transgênero performático - uma transescritura que convoca diferentes linguagens, reunindo contribuições de diferentes culturas e tradições.
NG: Com este ensaio, você entra para um seleto grupo de autores que estudam Sousândrade – um dos escritores menos lidos e ainda meio à margem do nosso cânone literário. Dentre as leituras críticas que serviram de base para a sua pesquisa, qual você destacaria e por quê?
AS: O meu entusiasmo por O Local da cultura, de Homi Bhabha, deve-se às leituras anteriores que eu tinha de Silviano Santiago. Ainda no mestrado, por influência de Eneida Maria de Sousa (UFMG), interessei-me pelo conceito do entre-lugar. A ele, juntaram-se, ainda, hibridação (Canclini), mestiçagem (Gruzinski), estrangeiro (Kristeva), heterogeneidade (Polar), entre outros. Costurei-os com o conceito de performance, tomado por Graciela Ravetti (UFMG) como uma chave de interpretação da história da América Latina, revelando novos espaços de conhecimento cultural e literário. Evidentemente, segui as pegadas dos críticos da obra Sousandradina como Haroldo de Campos, Costa Lima, Frederick Willians, Sebastião Duarte, Luiza Lobo, Cuccagna, etc. Essas leituras me permitiram perceber que o nômade Sousândrade, se lido em seu tempo com mais interesse, teria antecipado as teorias sobre nação que somente tomaram corpo no século XX. O poeta maranhense, através da errância do Guesa, transgride as fronteiras tanto dos territórios político-culturais, quanto dos gêneros literários, concebendo língua e Nação como entidades plurais, configuradas entre apropriações e perdas. Se o grupo de leitores de O Guesa deixar de ser seleto, muito se há ainda que revelar dessa obra.
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O Guesa / "Canto Terceiro"
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As balseiras na luz resplandeciam
—oh! que formoso dia de verão!
Dragão dos mares, — na asa lhe rugiam
Vagas, no bojo indômito vulcão!
Sombrio, no convés, o Guesa errante
De um para outro lado passeava
Mudo, inquieto, rápido, inconstante,
E em desalinho o manto que trajava.
A fronte mais que nunca aflita, branca
E pálida, os cabelos em desordem,
Qual o que sonhos alta noite espanca,
"Acordem, olhos meus, dizia, acordem!
"E de través, espavorido olhando
Com olhos chamejantes da loucura,
Propendia p'ra as bordas, se alegrando
Ante a espuma que rindo-se murmura:
Sorrindo, qual quem da onda cristalina
Pressentia surgirem louras filhas;
Fitando olhos no sol, que já s'inclina,
E rindo, rindo ao perpassar das ilhas.
— Está ele assombrado?... Porém, certo
Dentro lhe idéia vária tumultua:
Fala de aparições que há no deserto,
Sobre as lagoas ao clarão da lua.
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