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Resenha publicada nO Jornal de Hoje, Natal, 23/09/1998
Em Macondamérica - a paródia em Gabriel Garcia Marquez (Ed. Leviatã, 1993), a profª. e ensaísta Selma Calasans Rodrigues analisa a obra do escritor Gabriel García Marquez por um enfoque paródico. Para realizar sua empreitada, a autora re-lê, além de outros textos, o texto bíblico, as Crônicas da Conquista da América e o mito de Édipo. Segundo ela, esses textos estruturam a narrativa de Cem anos de solidão.
O livro de Selma divide-se em 4 capítulos. No primeiro, “Autoparódia na formação da obra”, a autora analisa as fases da produção de García Marquez e os procedimentos utilizados na construção do seu texto (principalmente a autoparódia e os intertextos que o autor mantém com escritores como Kafka, Hemingway e Faulkner, dentre outros). Neste capítulo, Selma sugere que no estudo da obra de GM sejam incluídos os contos de Ojos de perro azul - textos denominados pelo escritor Vargas Llosa de “pré-história morbosa”. Selma discorda deste autor colombiano, alegando que estes primeiros textos de GM ainda jovem e que têm a morte como tema recorrente, são fundamentais para a compreensão do seu desenvolvimento posterior.
“Cem anos de solidão: Ficção das Índias” - o 2º capítulo de Macondamérica, rastrea os textos das Crônicas da Conquista da América no romance. Texto sedutor que lida com questões como “mestiçagem: ideologia e discurso”, este capítulo impulsiona o ritmo da leitura do livro ao analisar nossas origens latinas. Esta parte do livro revela também a clareza com que Selma dialoga com outros saberes, além da literatura, como a história, a antropologia, a religião, a sociologia, a estética...
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Criticando a discriminação do Positivismo, em relação a excelência das raças puras, ressaltando os fatos que motivaram uma nova visão das Américas (a 1ª guerra, as vanguardas européias, a revolução mexicana), atentando para a carnavalização bakhtiniana como estética identificada com o discurso latino-americano e relacionando alquimia e literatura, Selma ressalta nossa “vocação antropofágica” (O personagem José Arcadio, sabemos no final, “foi antropófago”) e explica o porquê de um século solitário. Ainda neste capítulo, a autora discorda de Graciela Maturo, que tenta associar a obra de Gabriel Garcia Marquez a “uma filosofia cristã” e ao discurso alquímico. Diferentemente de Graciela, Selma lê o texto de Gabriel Garcia Marquez numa crítica perspectiva alegórica, o que possibilita múltiplas leituras da narrativa.
Revelando ser Cem anos de solidão estruturado a partir do texto bíblico, Selma enumera em “Macondo: do Gênese ao Apocalipse” os mitemas bíblicos que compõem a narrativa de Gabriel Garcia Marquez. Ao ler a inversão paródica operada pelo autor, Selma Calasans discorda novamente de Graciela Maturo que, num estudo sobre o mito em GM, apresenta posição oposta; isso porque a leitura de Selma utiliza-se do mito enquanto significante lingüístico e não como uma “crença”.
O 4º e último capítulo - “O mito de Édipo” - traça um histórico desse mito por um prisma antropológico e psicanalítico, através do qual a autora analisa o caráter simbólico da linguagem. Trabalhando com idéias do tipo “duplos paródicos”, e estudando as relações entre “matriarcado, machismo e dependência”, a autora analisa a família Buendía como núcleo fechado em si próprio, numa intensa relação incestuosa. Segundo Selma, o mito de Édipo ...cumpre sua função ao aludir a uma crítica global da História do Continente, pois levanta o problema da sua dependência política, do esquecimento fundamental das origens e do fechamento “incestuoso” ao resto do mundo, também não desejável.
Na década na qual o Brasil e a América comemoram datas tão significativas, relacionadas a seus descobrimentos, nada mais instigante que a leitura de um texto que, desvelando as origens, as formas e leituras do continente, revela para seus filhos a possibilidade de criação de sua identidade através de uma linguagem própria.
Revelando ser Cem anos de solidão estruturado a partir do texto bíblico, Selma enumera em “Macondo: do Gênese ao Apocalipse” os mitemas bíblicos que compõem a narrativa de Gabriel Garcia Marquez. Ao ler a inversão paródica operada pelo autor, Selma Calasans discorda novamente de Graciela Maturo que, num estudo sobre o mito em GM, apresenta posição oposta; isso porque a leitura de Selma utiliza-se do mito enquanto significante lingüístico e não como uma “crença”.
O 4º e último capítulo - “O mito de Édipo” - traça um histórico desse mito por um prisma antropológico e psicanalítico, através do qual a autora analisa o caráter simbólico da linguagem. Trabalhando com idéias do tipo “duplos paródicos”, e estudando as relações entre “matriarcado, machismo e dependência”, a autora analisa a família Buendía como núcleo fechado em si próprio, numa intensa relação incestuosa. Segundo Selma, o mito de Édipo ...cumpre sua função ao aludir a uma crítica global da História do Continente, pois levanta o problema da sua dependência política, do esquecimento fundamental das origens e do fechamento “incestuoso” ao resto do mundo, também não desejável.
Na década na qual o Brasil e a América comemoram datas tão significativas, relacionadas a seus descobrimentos, nada mais instigante que a leitura de um texto que, desvelando as origens, as formas e leituras do continente, revela para seus filhos a possibilidade de criação de sua identidade através de uma linguagem própria.
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Neste espaço no qual o sujeito busca eternamente respostas para sua solitária condição política e humana, resta a lição visionária dos conquistadores, cujas mentes eram estimuladas pela leitura - ação a que este livro de Selma Calasans nos impulsiona, através da interpretação de um continente cuja forma espelha seu conteúdo. Neste sentido, são as senhas de Macondamérica um topos desejante para quem lê. E principalmente para quem vive por estas plagas.